Territórios-Titanzinho

Associação de Moradores do Titanzinho -  Fortaleza
 

Em Fortaleza, nos primeiros meses, a pesquisa propôs conhecer coletivos de jovens, movimentos e territórios de criação e resistência. E, assim, chegamos ao Titanzinho, uma subdivisão do bairro Serviluz que compreende a região do grande Mucuripe. O lugar possui grande visibilidade por duas vertentes distintas, primeiro por ser um dos maiores pontos de surf da cidade e de lá saírem grandes surfistas conhecidos internacionalmente. A outra entrada é pela questão da construção do Estaleiro em 2010, na área que compreende o Titanzinho. Esse acontecimento mostrou a força da comunidade e das associações que se uniram mobilizando outros movimentos organizados na cidade afirmando a história e a memória que não pode ser destruída. Como descreve André Aguiar Nogueira (2006), jovem pesquisador, morador e participante da Associação dos Moradores – esse território apresenta “um processo histórico instigante em um emaranhado de conflitos e resistências intrigas e partilhas”.

Somos apresentados ao Titanzinho por Fabíola, estudante do curso de cinema e audiovisual da UFC, moradora do bairro, integrante da Associação de Moradores do Titanzinho e também bolsista PIBIC-Funcap da pesquisa. Fabíola inicia sua apresentação no coletivo nos contando o que acontecia no bairro, quais eram os movimentos e um pouco da Associação de Moradores do Titanzinho, que tem na sua composição jovens moradores do bairro. E, na conversa, conta da Rádio Comunitária feita pelos jovens do bairro. Uma rádio criada a partir do projeto “Farol da Memória” que mobilizou os jovens e moradores por meses. A pesquisa é então fisgada por essa peculiaridade do território geográfico e existencial e pela vontade dos jovens de inventar e intervir com a rádio. Decidimos então caminhar por essa pista.

Com os encontros e as conversas o coletivo segue descobrindo outras potencialidades e outras experiências começam a ser narradas. A cada relato novos materiais de expressão são mapeados – oficinas de rádio, fanzine, fotografia, vídeos, trabalhos acadêmicos, entre outros. Um dos integrantes do coletivo nos conta que conhece um vídeo que foi produzido por uma pessoa do Titanzinho e, em seguida outros estudantes comentam de outros vídeos e trabalhos científicos - monografias, dissertações, etc. Outro pesquisador sugere iniciarmos uma cartografia dos vídeos relacionados ao Titanzinho em sites de compartilhamento e, nesse processo, nos deparamos com um vasto material produzido entre curtas e videoclipes que nos tomaram com a força das imagens e, principalmente, o desejo potente de criação e produção audiovisual.

Conhecemos também algumas experiências de projetos culturais e sociais propostos por ONGs como a Aldeia, o Enxame e o Serviluz sem Fronteiras – que atuavam na região envolvendo jovens e suas criações artísticas e comunicacionais. Inclusive, tivemos acesso ao vídeo “Titãs de Tábuas” - o surf de “taubinha” no Titanzinho – produzido por jovens da Escola de Mídia,projeto coordenado pela ONG. Aldeia, no Morro Santa Terezinha, no Mucuripe.

Nas conversas, na Associação dos Moradores do Titanzinho, os jovens contavam experiências com o audiovisual e afirmavam o desejo de voltarem a criarem e produzirem imagens e sonoridades de si e do bairro.

Por conta da multiplicidade de vídeos cartografados, ficamos a discutir, Coletivo e os integrantes da Associação de Moradores, se as pessoas do bairro conheciam o que se produzia sobre e no Titanzinho. Chegamos então ao consenso de realizar uma Mostra Audiovisual definindo alguns critérios para a seleção dos vídeos. Na primeira Mostra foram selecionados dez vídeos apresentados nos dias 09 e 10 de dezembro de 2011. Esse momento foi de grande intensidade para todos os envolvidos – jovens, estudantes, moradores, pesquisadores e passantes. Percebemos os olhares, gestos e surpresas dos moradores ao se depararem com imagens de vizinhos, amigos a até mesmo de parentes em uma tela, ao ar livre. Imagens e sonoridades até então desconhecidas. Além disso, enfatizamos o movimento e envolvimento dos integrantes da Associação com a realização da Mostra, uns mais ligados com a curadoria dos vídeos, outros com a produção cultural. Desde então estamos todos - da pesquisa In(ter)venções – acompanhando “bem de pertinho”, ou melhor, implicados com os movimentos desse território e toda sua força, em especial, na ações dos jovens da Associação, suas potencialidades e desejo de intervir e inventar outras imagens e sonoridades de si e do mundo.

Um coletivo de audiovisual começa a dar os primeiros passos – um coletivo que reúne jovens com e sem experiência de produção e edição em vídeo. Jovens que se envolvem com as ações e mobilizações do bairro trazendo suas experiências para fortalecer a Associação dos Moradores alargando os laços de amizade e vizinhança. Seguimos pesquisando e intervindo com esses jovens e seus territórios de criação e resistência.

Referência Bibliográfica:

NOGUEIRA, André Aguiar. Fogo, vento, terra e mar: migrações, natureza e cultura popular no bairro Serviluz em Fortaleza. São Paulo, 2006.

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